Voltamos com mais uma entrevista na CS, tentamos sempre trazer talentos da 9º arte para que possamos conversar e de certa forma aproximá-los da nossa comunidade. Hoje teremos a entrevista com o nosso primeiro colorista!
E é com grande honra, que conversaremos com Matheus Lopes, natural de João Neiva. Colorista com trabalhos na DC Comics, Marvel Comics, Image Comics e Dinamyte. Vocês já devem ter se deparado com alguns de seus trabalhos mais recentes. Suas belas cores estão nas páginas de Supergirl: Woman of Tomorrow com roteiros do Tom King e arte da Bilquis Evely. E Step by Bloody Step, com roteiros de Si Spurier e com arte de Matias Bergara.
Alguns dos quadrinhos a qual trabalhou, já ganharam indicações para o Eisner Awards, como Gasolina em 2019 e The Dreaming em 2020... Então sem mais delongas vamos para a nossa entrevista!
(CS) Matheus, muito obrigado por ter aceito conversar com a gente. Sabemos que você já tem muitos anos dentro do mercado de quadrinhos, mas sempre ficamos curiosos nos primeiros passos que você teve que dar para chegar e se tornar o grande colorista que você é hoje. Quando foi que você começou a estudar sobre cores e como decidiu seguir na carreira de colorista?
(ML) Obrigado pelo convite e a honra é toda minha! Eu comecei a colorir em 2008, apenas como hobby. Alguns meses depois descobri que existiam profissionais brasileiros que faziam do meu passatempo uma profissão e resolvi tentar seguir esse caminho. Foi quando comecei a tentar me profissionalizar, em 2009.
(CS) Vendo o seu trabalho conseguimos enxergar uma certa “assinatura” em relação ao uso de suas paletas e tons, como é feito a escolha a qual caminho seguir em relação a colorização de uma edição? Quando você trabalha em um quadrinho novo, isso é decidido após a leitura do roteiro ou você se prepara de outra forma?
(ML) Meu “estilo” é um reflexo do meu gosto, eu não tenho preocupação nenhuma em criar uma “assinatura”, apenas foco em fazer algo que vai me satisfazer. Normalmente, quando começo em um novo título, gosto de fazer estudos soltos para explorar que tipo de abordagem vou aplicar naquela história. Para isso preciso ler o roteiro e ter algumas páginas prontas para eu trabalhar em cima, assim eu entendo de fato o que é aquele gibi e como vou modificá-lo a partir dali.
(CS) Agora vamos falar um pouco sobre os quadrinhos a qual trabalhou, The Dreaming, o Universo do Sandman é um dos mais consolidados no mundo dos quadrinhos, e ter uma participação nele é de extrema importância para qualquer pessoa do ramo. Qual foi a importância de fazer parte desse título na sua carreira?
(ML) Foi uma honra participar do Universo de Sandman. Quanto a importância, não sei dizer ao certo, essas coisas são difíceis de mensurar. O fato é que, até então, foi o trabalho mais desafiador da minha carreira, e sinto que correspondi de forma satisfatória a ele. Talvez isso tenha me ajudado de alguma forma, mas não posso afirmar com certeza.
(CS) Em The Dreaming também foi de fato onde uma das melhores parcerias do mercado atual começou. Que foi quando começamos a ter edições (obrigado por isso) com arte interna da Bilquis Evely e com cores suas, antes disso já havíamos tido uma palinha com algumas capas variantes para DC Comics e Marvel, mas gostaríamos de saber… Como é fazer parte de uma equipe artística que combina tanto?
(ML) É um privilégio ter uma parceira tão competente quanto ela. Além de excelente desenhista, eu já estou muito confortável e familiarizado com seu estilo e isso ajuda em todos os sentidos: na velocidade, nas soluções mais complexas e na exploração de novas abordagens. Então posso dizer que é muito bom.
(CS) Também saindo das mãos dessa grande parceria, com roteiros do Tom King tivemos entre o ano passado e o começo desse o título Supergirl Woman of Tomorrow, essa história foi um fenômeno entre seus leitores, um dos quadrinhos que nos levou a ver a personagem, Kara Zor-El, com outros olhos. Suas cores dão todo o tom, vida, e emoção para toda a jornada da personagem. Gostaria de contar como foi o processo de produção da capa já icônica da primeira edição? E também compartilhar com a gente, qual foi o seu momento favorito da história?
(ML) A primeira capa foi muito estressante, tanto no desenho quanto na cor. Na verdade, a versão publicada pela DC é a segunda versão que fizemos, porque a primeira não nos deixou completamente satisfeitos, mesmo depois de aprovada pelos editores. Então pedimos à DC para refazê-la e eles aceitaram. Ainda assim foi difícil porque queríamos que a nossa primeira imagem da Supergirl estivesse à altura da história e da personagem, então foi preciso muito esforço. Meu momento preferido da história foi na edição #6, quando podemos ver um pouco mais do passado da Supergirl.
(CS) Mudando um pouco para o seu trabalho mais recente na Image Comics, Step by Bloody Step, com Si Spurrier e Matias Bergara. Esse título promete ser uma experiência totalmente diferente do habitual, não só por ser um quadrinho sem balões de fala, se comunicando com o leitor apenas pelos quadros e arte, e principalmente pelas cores. Por ser um quadrinho mudo, as cores dão todo sentimento e profundidade a obra. Nos conte como foi para criar toda essa ambientação, combinando com a arte do Matias, por meio das cores nessa minissérie?
(ML) Foi desafiador. O traço do Matias por si só não é muito fácil de colorir, ainda pesou o fato de que, sendo um gibi mudo, precisávamos nos esforçar o máximo para deixar perfeitamente claro o que acontecia na história, tanto externa quanto internamente com as personagens. Muitas vezes essa exigência de claridade significava mais quadros por página, o que já complica um pouco mais. Então precisei de um tempo para me adaptar e fazer com naturalidade. As primeiras páginas foram bastante demoradas para mim, mas com o passar da revista as coisas foram ficando mais tranquilas. No final deu tudo certo, eu consegui ficar confortável e tive momentos muito bons com o desenho e com a história em si.
(CS) Cor é um dos elementos principais para os quadrinhos, e sabemos que é algo que se leva tempo para se dominar, que dicas você daria para aqueles que querem investir em se tornarem coloristas no futuro, que dica você poderia dar para aqueles que estão começando?
(ML) Primeiro, se divirtam. Depois estudem, aprendam os fundamentos da narrativa e da cor, e por fim, levem as coisas a sério.
(CS) Matheus, foi um prazer ter você aqui conosco e para finalizar, você gostaria de deixar uma mensagem para a galera que ainda leram Supergirl: Woman of Tomorrow e para quem está curioso com Step by Bloody Step, e esãto na dúvida se compram o gibi ou não, o que eles podem esperar?
(ML) Obrigado por lerem Supergirl: Woman of Tomorrow! Se gostaram das minhas cores lá, vocês também vão gostar de SBBS. Além disso, o desenho também é deslumbrante e a história emocionante, por isso não deixem de conferir!